O primeiro transplante de fígado do Rio Grande do Sul completa 15 anos e confirma o grupo de transplante hepático da Santa Casa de Porto Alegre como referência no Estado e no Brasil. O ano de 2006 também é destaque pelas mudanças na lista de espera pelo órgão. Desde julho, os casos graves têm preferência.
O nome de uma cabeleireira de Portão faz parte da história da medicina gaúcha. Marilene da Rosa, de 39 anos, coleciona dois títulos: a de primeira transplantada de fígado do Rio Grande do Sul e a de primeira do País a ter um filho após a cirurgia. Mas descobrir uma doença sem cura aos 24 anos não foi nada fácil. Sofrendo com hemorragias frequentes, devido à cirrose hepática em estágio avançado, ela foi igualmente surpreendida pela decisão dos médicos: um transplante de fígado, nunca antes realizado no Estado, era sua única chance de sobreviver. “Chorei, tive muito medo, mas minha família me apoiou, confiei nos médicos e enfrentei a cirurgia”, relembra Marilene.
O procedimento, realizado em 16 de junho de 1991, pelo grupo de transplante hepático da Santa Casa de Porto Alegre, foi um sucesso. Tanto que, três anos depois, nascia Rogério Giovani, um bebê saudável fruto de uma gravidez de altíssimo risco. “Depois de mim, muitas transplantadas também tiveram coragem de engravidar”, conta, orgulhosa.
Na Santa Casa, a cabeleireira é conhecida pelas comemorações nos aniversários de cirurgia, quando leva um bolo para festejar com os médicos. Mas, em 2006, a festa foi maior: 15 anos de uma decisão acertada e a trajetória de sucesso de uma equipe que bateu a marca de 600 transplantes de fígado no primeiro semestre deste ano. Para celebrar a data, uma solenidade especial foi organizada no auditório do Hospital Dom Vicente Scherer, unidade da Santa Casa especializada em transplantes, e contou com a presença de pacientes e da imprensa.
Os títulos de Marilene vieram acompanhados de uma consciência social. “Esses dias, um cachorro morreu aqui na rua e eu disse: Por que não doaram o fígado dele para estudo?”. A preocupação tem razões concretas: a preparação para a cirurgia que lhe salvou a vida foi feita através de 63 procedimentos experimentais realizados em cães e porcos, além dos estágios de profissionais em serviços de referência em humanos no exterior.
Os resultados do grupo de transplante hepático avançaram muito desde 1991. A prova está nos números: há quatro anos consecutivos, a equipe gaúcha é a que mais realiza o procedimento com doador morto no Brasil. No índice geral, só perde para São Paulo, onde são frequentes os transplantes com doadores vivos (da família).
Fonte: Santa Casa Notícias – novembro de 2006
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