De 1991 a 2011, equipe da Santa Casa realizou 870 procedimentos.
Os 20 anos do primeiro transplante de fígado realizado no Rio Grande do Sul foram comemorados em grande estilo. Em uma cerimónia que lotou ontem o anfiteatro Hugo Gerdau, na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a equipe médica comandada pelo cirurgião Guido Cantisani, a cabeleireira Marilene da Rosa, que passou pela cirurgia, e alguns pacientes transplantados celebraram a data com bolo, doces e refrigerantes.
Rogério Giovani Rosa, 17 anos, também participou das homenagens aos 20 anos do procedimento pelo qual sua mãe passou, tocando violão. Mesmo com o clima de festa, todos foram unânimes em um ponto: é fundamental aumentar o número de doadores no Estado.
Cantisani, que chefia o Grupo de Transplante Hepático da Santa Casa, diz que o número de 870 transplantes de fígado em duas décadas poderia ser maior. “Temos estrutura no hospital, conhecimento, experiência e equipe para duplicar o número de transplantes realizados por mês”, argumenta.
Em 2010, o Rio Grande do Sul teve 12,2 doadores por milhão de habitantes, ocupando a sexta colocação no País. “Podemos duplicar esse número e atingir níveis como o de São Paulo, por exemplo, que teve 21 ,2 doadores por milhão de habitantes”, destaca. Para o cirurgião, a conscientização, aliada a melhorias nos processos de notificação de um possível doador, é fundamental para que se efetive a doação. “A falta de campanhas é uma das razões da diminuição de doadores. Além disso, é preciso melhorar a infraestrutura da Secretaria da Saúde. Não temos uma captação e uma procura de órgãos adequada como em outros estados”, acrescenta.
O presidente da Associação dos Transplantados do Rio Grande do Sul, Jorge Luiz Kraemer Borges, acredita que falta vontade política das autoridades. Para ele, o Estado perdeu referência na busca de doadores porque não houve interesse do governo e até mesmo das prefeituras em implantar uma política de captação de órgãos. Ele questiona por que não se procura conhecer o modelo de Santa Catarina, que se transformou no segundo estado na captação de órgãos, perdendo apenas para São Paulo. “É preciso mobilizar a sociedade para a importância das doações de órgãos e tecidos. Milhares de pessoas aguardam no Estado e no País pela doação de um órgão”, acrescenta.
Marilene era uma das pessoas mais emocionadas com a homenagem. Ela fez um apelo para que as famílias conversem sobre o tema. “É importante que as pessoas manifestem aos seus familiares o desejo de doar os órgãos”, observa.
Em 1991 , a cabeleireira tinha 24 anos e sofria de cirrose hepática. Ela ficou oito meses na fila de espera aguardando por um órgão – o procedimento foi realizado no mês de junho daquele ano. Hoje com 44 anos, ela tem outra marca importante: foi a primeira transplantada de fígado do País a se tornar mãe, após dois anos da realização da cirurgia.
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